Que
eu amo ler, todo mundo sabe e até está cansado de saber. Mas toda vez que eu
leio, eu mergulho de cabeça, entro na historia, sinto absolutamente tudo o que
cada personagem sente, visualizo o cenário, os rostos, tudinho!
Dizem
que, devemos estar preparados para ler determinado livro, porque senão, a
leitura não flui, se torna maçante, chata e entediante. Concordo: é a mais pura
verdade.
Na
época do colegial, obrigavam a gente a ler milhares de livros sobre a
literatura brasileira que eu nunca entendia bulhufas. Eu lia, mas não
compreendia nadica de nada.
Machado
de Assis, Jorge Amado, Dias Gomes, Aluisio de Azevedo, Casimiro de Abreu,
Graciliano Ramos, entre outros, me dava vertigem quando eu tinha que ler.
Clarice Lispector e Erico Veríssimo eu aceitava numa boa. Mario de Andrade era
meu xodó. Mas a turma que mencionei primeiro, era meu castigo, não adiantava.
Resolvi
que, minha rixa com eles deveria ter um ponto afinal, pois as picuinhas da
adolescência sempre são sem pé nem cabeça, por besteira mínima e sem
fundamentação. Resolvi que, deveria enfrentar cada obra de cada um deles. Pra
mim, era mais que uma leitura obrigatória, era uma missão para entender o que
os mais idolatrados escritores brasileiros tinham a me dizer.
Comecei
pelo livro que virou filme: Capitães de
Areia, de Jorge Amado. Encasquetei que, antes de ver o filme, eu teria lido
o filme. O livro me surpreendeu, e eu pude sentir absolutamente cada detalhe
descrito com tamanha perfeição.
Sentia
a cada página lida, toda aquela angustia, raiva, carência que cada um daqueles
personagens sentia. Eu pude entender que, o livro não é apenas um livro
qualquer, sobre uma fabula. O livro representa os dias de hoje, por mais que
tenha sido escrito em 1937. Retrata exatamente os meninos que vivem nas ruas,
de toda capital brasileira.
O
abandono não é na década de 30. O abandono atravessa milênios. Ele cresce
diariamente na minha ou na sua cidade. São crianças revoltadas pelo abandono da
sociedade, pelo preconceito revestido, pela falta de oportunidade de ser amada
e educada. Crianças que, por mais que sejam más e comentam delitos para sua
sobrevivência, ainda sonham com aquele beijo na testa de boa noite dado pela
mãe, pelo abraço quando retorna da escola.
Capitães
de Areia eram crianças que tiveram que amadurecer antes do momento certo.
Tiveram que encarar a vida da forma mais severa e difícil, sem o apoio de um
adulto que as amassem e as conduzissem de forma correta. Hoje, são capitães do
asfalto, da escola, do morro, da areia, do trilho, de tudo.
São
milhares de abandonados por pais irresponsáveis, pelo estado, pelos direitos
humanos. São crianças conquistadas pelo furto, pelas drogas, pelo dinheiro
fácil que, não dá amor, nem saúde, nem perspectiva de uma vida melhor.
Se
eu quero revolucionar o mundo? Talvez. Hoje quero apenas desabafar minha
frustração por ver que, nem tudo o que diziam estes escritores renomados
passavam de historinhas inventadas no auge de um surto de imaginação. É uma
realidade doída, amarga e que não cessará tão cedo.
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