quinta-feira, 11 de abril de 2013

Capitães de Areia



Que eu amo ler, todo mundo sabe e até está cansado de saber. Mas toda vez que eu leio, eu mergulho de cabeça, entro na historia, sinto absolutamente tudo o que cada personagem sente, visualizo o cenário, os rostos, tudinho!

Dizem que, devemos estar preparados para ler determinado livro, porque senão, a leitura não flui, se torna maçante, chata e entediante. Concordo: é a mais pura verdade.

Na época do colegial, obrigavam a gente a ler milhares de livros sobre a literatura brasileira que eu nunca entendia bulhufas. Eu lia, mas não compreendia nadica de nada.

Machado de Assis, Jorge Amado, Dias Gomes, Aluisio de Azevedo, Casimiro de Abreu, Graciliano Ramos, entre outros, me dava vertigem quando eu tinha que ler. Clarice Lispector e Erico Veríssimo eu aceitava numa boa. Mario de Andrade era meu xodó. Mas a turma que mencionei primeiro, era meu castigo, não adiantava.

Resolvi que, minha rixa com eles deveria ter um ponto afinal, pois as picuinhas da adolescência sempre são sem pé nem cabeça, por besteira mínima e sem fundamentação. Resolvi que, deveria enfrentar cada obra de cada um deles. Pra mim, era mais que uma leitura obrigatória, era uma missão para entender o que os mais idolatrados escritores brasileiros tinham a me dizer.

Comecei pelo livro que virou filme: Capitães de Areia, de Jorge Amado. Encasquetei que, antes de ver o filme, eu teria lido o filme. O livro me surpreendeu, e eu pude sentir absolutamente cada detalhe descrito com tamanha perfeição.

Sentia a cada página lida, toda aquela angustia, raiva, carência que cada um daqueles personagens sentia. Eu pude entender que, o livro não é apenas um livro qualquer, sobre uma fabula. O livro representa os dias de hoje, por mais que tenha sido escrito em 1937. Retrata exatamente os meninos que vivem nas ruas, de toda capital brasileira.

O abandono não é na década de 30. O abandono atravessa milênios. Ele cresce diariamente na minha ou na sua cidade. São crianças revoltadas pelo abandono da sociedade, pelo preconceito revestido, pela falta de oportunidade de ser amada e educada. Crianças que, por mais que sejam más e comentam delitos para sua sobrevivência, ainda sonham com aquele beijo na testa de boa noite dado pela mãe, pelo abraço quando retorna da escola.

Capitães de Areia eram crianças que tiveram que amadurecer antes do momento certo. Tiveram que encarar a vida da forma mais severa e difícil, sem o apoio de um adulto que as amassem e as conduzissem de forma correta. Hoje, são capitães do asfalto, da escola, do morro, da areia, do trilho, de tudo.

São milhares de abandonados por pais irresponsáveis, pelo estado, pelos direitos humanos. São crianças conquistadas pelo furto, pelas drogas, pelo dinheiro fácil que, não dá amor, nem saúde, nem perspectiva de uma vida melhor.

Se eu quero revolucionar o mundo? Talvez. Hoje quero apenas desabafar minha frustração por ver que, nem tudo o que diziam estes escritores renomados passavam de historinhas inventadas no auge de um surto de imaginação. É uma realidade doída, amarga e que não cessará tão cedo.

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