Um dia desses, na rodoviária esperando o ônibus para ir
para a pós em São Paulo, uma moça, bem jovem mesmo, se duvidar, tinha a mesma
idade do que eu, me pediu um real, com aquele vocabulário simplório. Eu disse
que não tinha, e realmente, eu não tinha. Perguntei se ela queria bolacha (eu
tinha um pacote de bolacha na bolsa), ela disse que não, que ela queria um
real.
Falei que não tinha, ela me encarou com certa raiva e
saiu. Não senti culpa, se ela quisesse comer algo, daria meu pacote de bolachas
com a maior boa vontade, o dinheiro, eu não tinha.
Uma senhora virou e me disse: “Certa você, não deve
financiar o crime”. Parei. Pensei. Repensei. "Que papo é esse de financiar
crime minha senhora?" Não respondi, não valia a pena expor o que eu achava na
frase inconveniente dela. Mas ficou na garganta.
Hipocrisia. Isso é o que eu acho de quem fica dando lição
de moral, falando que não dá dinheiro pra pedinte, pois não financia crime.
Certeza que você não financia o crime?
Você financia sim senhor. E nada de fazer essa cara de
interrogação, incrédulo, de quem não está entendendo nada. Você financia o pior tipo de crime que existe e
nem fala nada! Você financia o crime organizado. Você paga impostos calorosos
para empresários do crime: Nossos governantes. Você paga imposto em tudo, na
sua alimentação, na sua vestimenta, na sua locomoção, no seu lazer, em tudo,
tudo, tudo. Você é um dos maiores patrocinadores do crime organizado em nosso
país.
Um país, aos olhos do presidente da França, de malandro.
Pior que ele tem razão. Nossos próprios governantes nos passam a perna. Cobra,
em alguns estados, R$3,00 o litro da gasolina, e para o exterior, você chega a
comprar por R$ 1,50. Vende-te um carro de luxo por R$ 70.000,00, e, no
exterior, você compraria no máximo por R$ 35.000.00.
O que você paga? Imposto! Até para guardar seu misero
salário você paga imposto.
E você não dá um real no farol, pois não vai financiar o
crime. Ah tá, é uma piada, né? Não dou dinheiro, nem pela questão de “não financiar o
crime” ou até mesmo, pela “a ociosidade alheia”, não dou porque aquela jovem
pode estar sendo usada pelos pais para arrecadar dinheiro para sustentar a
família. Prefiro acreditar que ela esteja com fome, e contribuir de uma forma
melhor.
Só não acalenta escutar pessoas que vivem votando em
políticos errados, se omitindo diante de tantos impostos absurdos e obras
desnecessárias que nossos políticos inventam para desviar o dinheiro público, o
nosso dinheiro, que deveria ser investido em educação, saúde, segurança.
Pois é meu caro, financiamos DIRETAMENTE para o crime
mais organizado de todos os tempos, caras de terno e gravata gritando
honestidade e prometendo melhorias, mais saindo com o nosso dinheiro na cueca.
Talvez esteja na hora de pararmos de criticar as pessoas
que não merecem tantas criticas assim. Deveríamos olhar com a mesma severidade
que olhamos para um pedinte, para um político em época de eleição que vem com
toda a simpatia e promessas possíveis e plausíveis de Oscar, pedir seu voto.