quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Aquela dos 21

"Se por um lado as crises são vistas como momentos perigosos e decisivos, por outro lado são identificadas como oportunidades de crescimento, de transformação para melhor."


Eugênio Mussak -  A vida cheia de curvas




Sempre gostei do número 21. Talvez porque meu aniversário seja no dia 21. Mas eu nunca fui muito de comemorar aniversário, então talvez não tenha muito lógica, ou até tenha e eu que não queira admitir. A idade que mais gostei de viver foi meus 21, talvez porque a faculdade estava acabando, eu andava com um carro zero (meu) sonho de consumo pra cima e pra baixo, ou porque eu já tinha viajado pra alguns lugares bacanas, conhecido pessoas excepcionais, me decepcionado grandiosamente no amor e lido uma dúzia de excelentes livros. Mas essa minha paixão pelo número 21 deve ser de vidas passadas. Olho no relógio?  6h21m/7h21m/16h21m/21h05m. O 21 tá sempre ali, marcando presença em todo lugar.

Quando comecei a correr - sim, lá vem aquele papo xiita "quando eu....", nunca imaginei que chegarei a fazer 21k. O objetivo era 5k correndo ininterruptamente, depois passei para 10k, até que um dia encasquetei que queria fazer 21k. Sim, eu fiz, mas foi num baita sofrimento, num calor de derreter gordura localizada. E depois dessa experiência tenebrosa, eu conclui que, jamais voltaria a fazer essa quilometragem novamente.

Daí uma amiga meia maratonista assumida, me convidou pra Meia Maratona do Lobisomem. Corrida super seleta. Ela me garantiu que, se eu ficasse em último lugar, teria um limpa-trilha (uma pessoa de bicicleta monitorando se ninguém ficou pra trás) atrás de mim. E eu rezei fervorosamente para que o limpa-trilha nem de longe fosse como o Léo. E ela deixou em aberto que, se eu não aguentasse, eu poderia desistir da prova a qualquer momento, pois nos pontos de apoio teriam resgates. Me senti mais confortável com isso. Não haveria pressão.

Foi difícil levantar às 5 da matina em pleno feriado, depois de dois dias hibernando ao som da chuva. O vento era gélido, mas eu queria ter a certeza de que os 21k não era pra mim. Ou minha primeira experiência foi desastrosa ou definitivamente eu não era longuista nem velocista,  e sim uma fingista de primeira mesmo.

Nos reunimos para tirar a foto do grupo e a contagem regressiva foi coletiva. Tinha gente de todas as idades, todos os biotipos, de todos os objetivos. Desejei boa prova pra Vivi, e ela pra mim. Foi dada a largada e eu estava estranhamente calma. Talvez por todo o conforto que recebi: pontos de hidratação a cada 3k, opção de abandonar a prova a partir do quilometro 9, a paisagem maravilhosa ao meu redor. Segui o fluxo. A Vivi? Sumiu de vista. A galera foi dispersando, e eu fui contando os passos, ganhando brigas internas, lavando roupas sujas, me livrando de velhas mágoas, me superando a cada quilometro concluído.

Quando dei por mim estava no quilometro 12 e ainda tinha fôlego e força pra seguir em frente. Fui avante, um passo de cada vez, mais leve do que o início da corrida. E veio a ladeira de 2,5k pra me dar o baque final. Ali foi o momento que a criança chorou desesperadamente e a mãe não viu. Foi ali que me despi das minhas bagagens emocionais mais antigas, eu precisava enfrentar a ladeira sem os pesos que me limitavam. Perdoei tanta gente naquela ladeira, me perdoei por tantas coisas, que quando cheguei no final dela estava sem força e oca, e aquele penúltimo ponto de hidratação foi a luz no fim do meu túnel. Me sentia leve, mas estupidamente esgotada. A ladeira foi uma limpeza tão brusca ao meu psicológico que, afetou diretamente meu físico. Era o quilometro 17 e eu pensei em desistir, parar por ali mesmo. Já tinha me superado de muitas maneiras. Estava super orgulhosa do resultado. Mas no fundo eu queria continuar, e fui avisada que daquele ponto em diante era só descida, ou seja, libertação.

E continuei. Contei até 100 com o pé direito. Até 100 com o pé esquerdo. 100 nomes com a letra A. E depois com a letra B, depois com a letra C. Passei em frente ao sítio de um grande amigo, anotei na minha agenda mental de ligar para eles, para saber se estão bem (ele e esposa). A esperança me acometeu e eu sabia que estava chegando ao fim. Apertei o passo e alcancei um senhor que estava há cerca de 1 quilometro na minha frente. Ele queria andar, e eu falei que faltava pouco e que terminaríamos juntos. Era a primeira vez que ele fazia 21k. Olha eu sendo solidária na reta final, retribuindo a solidariedade de tantas pessoas que já passaram por mim em corridas que eu não aguentava mais dar um passo, e me confortaram com palavras de incentivo.

Terminei a prova abaixo do tempo esperado. Mas terminei. A Vivi estava toda orgulhosa do meu desempenho. Eu estava exausta, mas levemente feliz,  descobri que o numero 21 sempre estará entrelaçado na minha vida. Seja na data do aniversário, ou nas horas vistas, ou na quilometragem corrida. O 21 faz parte de mim e eu dele e essa aceitação já basta.

Sim, estou completamente apaixonada pelos 21k. Sei que a próxima vez será menos sofrida e assim por diante. E eu estou muito feliz de ter me libertado de velhas amarras enquanto percorria um percurso maravilhosamente lindo que me energizava a cada passada.

Um viva aos 21. De todos os âmbitos. Que transformam a minha vida, me transmutam de tal forma, que eu só consigo agradecer!



terça-feira, 11 de outubro de 2016

Esperando

"Alguns cachorros querem ser livres para vagar, pois não tem alguém que os ame."

Bruce W. Cameron - 4 vidas de um cachorro



Uma hora sentada esperando o Charlie sair do banho. Pensei: Os dreads devem estar dando um trabalho danado pra Tia Aninha. Enquanto isso, leio todos os emails. Consigo fazer uma faxina no meu celular. Me atualizo no Instagram e no Facebook. Faço o pagamento de 3 contas pelo aplicativo do Banco no celular (que facilidade, gente!). Converso com a moça ao lado, que está com o rosto inchado de tanto chorar, porque o Paçoca (salsichinha) está doente e ela não consegue imaginar uma vida sem ele por perto. O veterinária a chama, e continuo eu, na sala de espera. 

Chega um cowboy e começa a tirar selfie, com as fotos de vários cachorros que tem na parede. Faz caras e bocas, e eu seguro a risada. Daí eu começo a tossir, num impeto de dar uma risada enrustida à tal episódio. Daí ele conversa com a recepcionista e vai embora. O telefone toca, a recepcionista atende e começa a elevar o tom da voz. Ela trata mal mesmo a mulher (sim, ela repetiu o nome umas 5 vezes da mulher do outro lado da linha). Fico indignada, essa guria deve estar infeliz com o salário ou porque o chefe esqueceu que ontem foi o dia da secretária. Vai saber.

Daí um maltês mau humorado sai do banho. Não é o meu. O Charlie não é de todo mau humorado, mas tenho orgulho dele ser um cachorro de poucos amigos. Chega uma maltesa toda desgrenhada, dou um suspiro alto aliviada - o Charlie não é o único em ter cabelos rebeldes. Passa um tempo chega um gordo com seu cachorro gordo. E na recepção tem uma balança com os seguintes dizeres: "Balança apenas para uso animal". O gordo vai lá e sobe na balança, ela dispara e pára nos 123,5 kg. Talvez ele seja uma anta e eu que não sabia. 

Minha barriga ronca e lembro que só tomei um copo de suco pela manhã. Olho para a ala "spa" e nada do Charlie aparecer. Levanto, bebo um copo de água, vou até a calçada ver o movimento da rua, mas resolvo voltar para dentro do pet shop porque o vento tá gelado, e de repente, a porta se abre e vejo meu branquelo vindo, tipo "Transformação" da Xuxa, livre de nós, com os fios alinhados, barba aparada e cheiroso. E ele abre o maior sorrisão quando me vê, do tipo: "Olha mamãe, eu estou lindo!". Todo orgulhoso do belo trabalho que a tia Aninha acabou de fazer. E eu fico toda boba, só pensando: Coisa linda da mamãe, e esquecendo de tudo o que ocorreu nos sessenta minutos que se passaram. 


sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Vontade Inoportuna

" Sempre gostei da palavra "resiliente", que é a capacidade de enfrentar as dificuldades sem sucumbir a elas."

John Boyne - Noah foge de Casa




Eu nunca tive vontade de chorar. Já tive vontade de gritar, de comer comida japa, de viajar, de dar uma voadora, de comprar todos os livros do mundo, estourar o limite do meu cartão de crédito com roupa, de almoçar pizza. Mas de chorar, até ontem, eu não tinha. E quando bateu a vontade de chorar com aquele e-mail, eu fiquei com vontade de ir pra casa, comer brigadeiro, bolinho de chuva, assistir Harry Potter (a maratona mesmo - pela milésima vez) e chorar. Mas eu engoli o choro e a vontade aumentou. E eu não podia chorar, não na frente de tanta gente, não com o dia pela metade, não em plena quinta-feira. 

Chorar sempre foi algo insperado. Quando via, já estava chorando. Mas logo passava. O choro de raiva é passageiro, o de alegria também. Mas chorar de tristeza é terrível, torturador, massante. Dá até raiva, dai o choro passa para o nível 02. Daí você já vai para o nível 03 com raiva dos olhos de sapo que ficará, do questionamento ininterrupto que as pessoas farão, do dinheiro que você definitivamente não tem pra ir chorar em Paris, e da coragem que você também nem ousa ter, em chorar sem culpa, sem preconceito, sem pudor, sem cerimônias. 

E eu sinto uma inveja danada dessas crianças que choram sem vergonha onde quer que estejam. Eu sempre tive vergonha de chorar. Mas nem por isso deixei de chorar. Mas hoje eu estou com uma vergonha absurda de sentir vontade de chorar. Porque eu lembro que, quando criança e eu vinha com manha de querer chorar, a minha mãe fazia questão que eu chorasse com vontade (com uma bela chinelada na bunda, é claro!), mas esse, impreterivelmente, não era o caso. E nem tinha como fugir correndo dessa vontade abstrata, já que da minha mãe com o chinelo eu conseguia fugir (e olha que minha mãe, involuntariamente, me incentivou a correr deste pequena > correr da surra<).

Daí tranquei essa vontade rebelde no armário debaixo da escada lá no meu íntimo. E fingi que não estava escutando toda a baderna que essa cretina estava fazendo dentro de mim. Ô bichinha rebelde e sem educação! Mas ignorei ela o restante da tarde.

No intuito de acalmá-la, fui correr. Pra ver se ela finalmente ia embora. E não é que ela me enganou direitinho? Eu já estava feliz da vida, achando que ela tinha ido e eu tinha vencido. Fui ver a Belinha (que por sinal me amou) e depois voltei pra casa como se nada tivesse acontecido. 

Ao me deitar, a bendita vontade chegou com tudo. A única coisa que pude fazer naquele momento foi me render, deixar ela fazer o que queria, sem lutar bravamente, na esperança de que o novo dia fosse mais tranquilo e sereno, e sem ela me rondando feito um detetive. 

Não era falta de coragem. Era falta de luto, de compaixão, de solidariedade comigo mesma. Era a negação interna de que tudo era apenas um grande pesadelo. Era um excesso de resiliência que até eu mesma desconhecia. 

Ao acordar, abracei a realidade como uma velha amiga e a vontade inoportuna se foi (por ora).



quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Boa Noite


Dilma Rousseff sofre impeachment e não é mais presidente. Willian Bonner e Fátima Bernardes se separam após 26 anos casados. Frente fria chega em São Paulo. Onde investir seu dinheiro após a cassação da Dilma. 24ª Bienal do Livro de SP termina neste fim de semana com atrações internacionais. 7 dias para o inicio da Paraolimpíadas Rio 2016.


Boa noite,


Dilma Rousseff sofre impeachment e não é mais presidente da República, o presidente interino Michel Temer tomou posse às 16h e apenas disse que a responsabilidade aumentou. Ovacionado por uns e vaiado por outros, o presidente oficial não escorregou no português, enquanto a presidente deposta diz que lutará com unhas e dentes pela sua reiteração no cargo legítimo assumido. 

Na segunda (29), Willian Bonner e Fátima Bernardes publicaram em seus respectivos "Twitter" o fim do relacionamento que durou 26 anos. Sem entrar em detalhes, afirmaram que serão bons amigos daqui pra frente, e as más línguas afirmam que eles já estavam morando em casas separadas há algum tempo. É gente, depois do rompimento deste casal modelo, fica difícil acreditar no amor eterno.

E pra quem estava reclamando do calor que estava fazendo em São Paulo nos últimos dias, onde a alta foi de 31ºC e fez a típica dancinha da chuva, pode comemorar! A temperatura caiu graças uma frente fria que veio sei lá de onde, que trouxe uma chuvinha fina (que molha mesmo) e vários casacos com cheiro de guardado às ruas de São Paulo nesta quarta. Ai minha rinite!!!

Com a cassação de Dilma Rousseff, investir seu dinheiro ficou muito mais fácil! Os títulos atrelados ao IPCA serão uma excelente pedida com grandes chances de valorização à longo prazo. Para os mais corajosos, o mercado de ações terá alta - ganho alto e rápido. Poupança continua sendo um dos piores investimentos. 

24ª Bienal do Livro de SP termina neste fim de semana (04), a expectativa é que o número de visitantes seja igual ou superior ao último fim de semana. Com diversas atrações, a Bienal este ano trouxe muitos escritores estrangeiros que levou muita gente a loucura! 

Falta 7 dias para o Inicio das Paraolimpíadas do Rio 2016! Com mais de 100 mil ingressos vendidos, tanto os atletas, quanto os espectadores estão ansiosos com o inicio dos jogos! E todos nós esperamos que todos os participantes saiam vitoriosos com ou sem medalhas (mas que nosso quadro de medalhas supere Londres 2012!).

Hoje, 31 de agosto e eu aqui, escutando a chuva cair lá fora, inconformada com a separação do Bonner e da Fátima depois de 26 anos juntos, vendo os jovens ficando loucos porque não sabem se o impeachment vai ou não cair no vestibular, sem dinheiro para ir na Bienal e investir sei lá onde com a queda da Dilma, sem antena em casa para ver a paraolimpíadas que começará na próxima semana, sem inspiração para escrever um texto decente.



Fiquem agora com as noticias veiculadas nas redes sociais e sites de entretenimento, enquanto eu tento olhar para o casal abaixo e voltar a acreditar em contos de fadas e no felizes para sempre.


Boa noite.






sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Ai, que preguiça!

" Querer, a gente quer muita coisa. Mas sempre é um querer preguiçoso."

Martha Medeiros - Montanha Russa



Ando numa preguiça absurda, ultimamente. Preguiça de ser simpática com gente falsa. Preguiça de sorrir pra gente folgada. Preguiça de escutar quem não tem nada de relevante a dizer. A preguiça se aloja no meu ser, me domina de tal forma, que o que me resta é a mais pura redenção. Me rendo numa indiferença quase mórbida, me transmuto para outra galáxia e meu corpo congela num sorriso e numa balançada de cabeça, e murmura automaticamente algumas palavras, como por exemplo, "legal". "uhum". "nossa" só pra demonstrar que presente de corpo estou, mas meu espirito está numa outra dimensão.

Morro de preguiça de escutar os problemas alheios, que sempre são os mesmos há mais de mil anos. Morro de preguiça com os discursos bem elaborados dos políticos que estão surgindo com milhões de propostas que nunca sairão do papel. Morro de preguiça de mim mesma, quando estou confusa, impaciente, sem direção e com vontade de comer algo que não tem na geladeira. 

Lógico que quero revolucionar o mundo, mas morro de preguiça de subir em um palanque e fazer o tal alvoroço necessário. Tenho preguiça de ir correr quando está frio - mas vou lá e corro. Tenho preguiça de correr quando está chovendo - mas vou lá e corro. Tenho preguiça de correr quando está um calor infernal - mas vou lá e corro. Mas o porquê de correr? É simples, eu ganho algo com isso. Puro interesse. Porque correr por correr, porque a corrida alimenta minha alma, satisfaz a minha necessidade de endorfina é a mais pura mentira. Corro porque ganho milhas e ponto. Se eu não ganhasse, não correria com tanto afinco assim não. 

Mas... o que é que tem isso ligação com a preguiça? Absolutamente tudo! Quando é algo para nosso próprio bem, para nossa própria satisfação, para nosso próprio interesse, a preguiça some. Quer ver? Você morre de preguiça de levantar cedo para trabalhar, mas vai. Por que? Porque você recebe sua remuneração, que, consequentemente proporciona a realização de vários desejos. Você morre de preguiça de ir pra casa da sogra no domingo, mas vai; Por que? Porque você quer manter seu relacionamento saudável na medida do possível, ou simplesmente porque, ela mora no caminho de uma excelente doceria. 

A mais pura verdade é que somos um bando de interesseiros à espera de ter uma boa moeda de troca para sacudirmos a preguiça para o lado e darmos um up nos acontecimentos. Enquanto isso não acontece, vamos empurrando tudo o que encontramos pela nossa frente com a barriga, a espera que a preguiça suma num piscar e transforme tudo na mais pura sintonia e disposição.

Ai, que pre-gui-ça! 



quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Tudo muda

"Para chegar onde quer que seja, aprendi que não é preciso dominar a força, mas a razão. É preciso, antes de mais nada, querer." 

Amyr Klink - Cem dias entre o céu e o mar



Passei semanas encaixotando algumas coisas e jogando outras tantas fora. Isso fica, isso não. Isso vai pro lixo e isso pra doação. Fui me desapegando aos poucos de tanta coisa, pra não sofrer tudo de uma só vez. Meu coração não anda bom, palpitações me acordam as três da manhã, então é melhor conter as emoções. Ainda sou muito nova para morrer, embora uma pessoa de 45 anos tenha me chamado de tia - o que realmente me abalou psicologicamente. 

Desde pequena passei por várias mudanças de casas, de um aluguel ao outro até meus pais adquirirem a casa própria quando eu tinha sete anos. E eu lembro que foi uma felicidade imensa, porque logo eu (acreditem) sempre odiei mudanças. Eu sempre perdia algo nas mudanças. As casas sempre sequestravam uma parte de mim.

As prateleiras começaram a ficar vazias - os armários também. As paredes com tantas bolinhas pretas -  que foi um dos melhores passatempos na minha morada independente e irreverente, que eu queria que fosse aconchegante e cool - ficaram cruas; a bancada com porta retratos de cada momento vivido, estava vazia. Aos poucos fui desfazendo meu lar e o transformando em uma casa qualquer - do jeitinho que era quando cheguei.

Senti um vazio - e outro nó na garganta. Sim, eu estava sozinha fazendo tudo isso, mas dei um bocejo pra disfarçar a vontade de chorar pro Charlie não perceber. Ando extremamente emotiva, a TPM deve ter armado a barraca dentro de mim, só pode.

E cada quadro tirado, a  pilha de caixas aumentando, me libertava e aceitava que a mudança seria positiva. A mesa de piquenique tão sonhada já tinha um novo lar, que eu nem fiz questão de saber onde era esse tal novo lar, pra não correr o risco de ir lá, chorar as pitangas e pegá-la de volta. A piscina vazia fez uma saudadezinha boa de se ter, chegando devagarinho e lembrar que até o Charlie ali nadou. O balanço que o vento "balança", que hoje está solitário na varanda outrora cheia de coisas e cores mostra que por ali, passaram crianças e adultos que não resistiram numa balançadinha qualquer. 

Logo eu, que achei que ali criaria raízes e ficaria até o fim dos meus dias, já estava de malas prontas pra mais uma nova morada. Uma nova casa que logo menos virará um novo lar. 

A pior parte foi vê-la vazia. Parecendo uma casa qualquer, com o cheiro de tinta forte, graças as paredes recém pintadas. Paredes estas que tem muitas gargalhadas arquivadas. Quando fechei a porta e olhei para aquele gramado imenso que tantas vezes o Charlie sumia no meio dele, o coração apertou. 

Deste momento em diante, mais uma vez, minha vida muda completamente. Um novo livro, uma nova etapa. Novos objetivos, novos rumos. O tempo verbal focado apenas no presente, sem pretérito perfeito, imperfeito ou mais que perfeito, só a espera de um futuro tranquilo - que ocorra no tempo certo. 





quinta-feira, 28 de julho de 2016

Aquela viagem

"Eu teria inúmeros motivos para descrever porque gosto tanto de viajar, mas por hoje fico com esta: Pela alegria de viver e pela falta de frescura".

Martha Medeiros - Feliz por Nada




Procurei as mais belas palavras que sincronizassem de forma harmônica e coerente para este texto. Iniciei e apaguei umas dez vezes, no minimo. Desabafei com uma amiga, que era muito difícil expor um sentimento com tal riqueza de detalhes. Tive vontade de chorar, de saudades. Gargalhei em muitos momentos, lembrando de episódios hilários. Resolvi relatar, da melhor forma possível o que essa viagem significou - de mim para mim. 

Se existe uma coisa que eu amo mais que viajar é dormir no avião. Sim, parece loucura, mas acho o máximo dormir em um estado e acordar em outro. Tipo teletransportação (nem sei se essa palavra de fato existe, mas ela encaixa perfeitamente na explicação que quero dar). Dei breves cochilos no voo. Não queria perder nenhuma oportunidade espetacular de uma vista maravilhosa que me tirasse o fôlego. O que fiz muito bem, depois de uma série de episódios catastróficos que vinha atravessando. Me surpreendi quando avistei o Rio Tocantins e ao fundo as chapadas onipotentes, fazendo daquele cenário único. Um belo presente para minha chegada rumo a desvendar as belezas comentadas do estado Tocantins. Geograficamente, Tocantis está localizado na região norte do país, estado este relativamente novo (sim, sou mais velha que o estado, acreditem!). Um estado que esconde belezas naturais indescritíveis. O destino final? Jalapão. Arrepia só de escrever o nome.

Meu primeiro pensamento foi: Porque não vim antes? Pergunta que foi respondida nos dias que se passaram. Eu só conseguia agradecer, uma gratidão que se apossou do meu ser. Era uma viagem desejada e merecida, e que aconteceu exatamente no momento que eu mais precisava. Uma viagem com uma grande amiga que também, desde quando nos conhecemos, planejamos ir juntas pro Jalapão. Aquele tipo de viagem que você tem que fazer enquanto as costas não doem e as pernas aguentam a brutalidade. Tinha que ir antes de morrer e ponto.


Mas a questão não foi só o fato de ir pra uma lugar maravilhoso com a amiga mais aventureira que você tem. Foi todo o contexto, toda a paisagem, a insanidade engraçadíssima do guia, o quinto elemento do grupo que a gente nem sabia que teria, e o namorado da amiga aventureira, que tem cara de rapaz sério mas é uma figura - e que dupla formou com o guia, hein!


Eu tinha esquecido quando realmente tinha me sentido em êxtase de tanta felicidade. Eu tinha esquecido de como era demais ficar com o pé encardido de terra vermelha que demora pra sair. Eu tinha esquecido como é maravilhoso ver o sol nascer - e se pôr. Eu tinha esquecido como é maravilhoso pular inúmeras vezes num rio e nem ligar se isso ocasionaria ou não um impacto ambiental.

E teve momento cultura, é claro! Descobri que as queimadas que ocorrem no cerrado brasileiro se dão pela seca - e curiosamente essa queimada acontece para a renovação da vegetação - e incrivelmente a minoria das queimadas se dão pelo homem. Natureza sendo sábia, como sempre. As araras azuis, lindas e voando com o maior estilo do mundo, fazendo um bando de gente urbana demais, acostumados com cachorros e gatos ficarem de boca aberta e câmeras  a postos para pegar o melhor click. As canindés (araras) também deram o ar da graça, desfilando as cores da bandeira do Brasil, mas sendo tímidas e não se expondo muito. Falando em bicho, ainda bem que azinimigas (leia-se cobras) não apareceram, para nossa alegria.

Um dia foi estupidamente melhor do que o outro. Juro que até fiquei mal acostumada com tantos pores-do-sol maravilhosos. Dá um nó na garganta. Aquele nó de você querer chorar de emoção. Lógico que a gente engole o choro, disfarça os olhos marejados com um bocejo e continua admirando o espetáculo silencioso do sol indo e da lua cheia chegando e iluminando aquele cerrado peculiar e maravilhoso. (gente do céu, a lua cheia mais linda-maravilhosa-inacreditável-espetacular que eu presenciei na minha vida foi no Jalapão!).

Os fervedouros, que não são em nada parecidos uns com os outros e são espetaculares. As cachoeiras de águas cristalinas e deliciosas, que desperta sua criança interior e você fica com medo de pular a primeira vez, mas depois, pula tanto que mal sente as pernas, ri tanto que fica com dor na barriga e engole litros de água e esquece o que é protetor solar. 

Lógico que a cultura continua. A fruta buriti ( e a gente descobre que buriti não é só um creme hidratante - ele é fruta que pode ser comida, vira doce e até sorvete) só nasce perto das veredas e é alimento de um monte de animais. E aquela variedade de frutas? Cajá, graviola, cupuaçu, caju. Eu queria tomar um suco de cada fruta, toda hora e o tempo todo.  

Terra de gente simples, simpática, bruta e sem frescura. Terra de terra vermelha e branquinha. Terra da casa do Pablo Escobar que ninguém sabia, mas que, desde já fica sabendo, pra não alegar ignorância. 

O destino? Espetacular! O nosso guia mitou do inicio ao fim, nos arrancando muitas gargalhadas e nos apresentando o paraíso ainda escondidinho (não por muito tempo) no centro do nosso Brasil. 


E ficam as amizades feitas e fortalecidas; as diversas tonalidades de verdes; o azul daquele céu  limpo e fascinante; as histórias que viram parte da nossa história pessoal e mostram quanta sorte temos; o silêncio que predominava e trouxe a quimera paz desejada.

Eu poderia ficar aqui, dias e mais dias, relatando como o Jalapão mudou a minha percepção de certas coisas na minha vida e o quanto ele me marcou. Mas nenhuma palavra seria capaz de expressar com tal riqueza de detalhes o que eu senti nos dias que lá estive.

Ficam as saudades do guia quase chorando por causa de cinquenta reais; do balanço da caminhonete nas estradas quase intransitáveis; dos pulos nos fervedouros para foto ou pura diversão, do sorvete de tapioca, murici, cajá, buriti e graviola; da paçoca que tinha no almoço e no jantar - e que nem era de amendoim - era de carne seca mesmo; naquela fome desvairada depois de andar quilômetros e quilômetros comendo poeira; das pérolas da viagem. 

Jalapão é bruto? Muito! Tem que ter muita maturidade e jogo de cintura para encarar o choque de realidade que aquele lugar proporciona. Você vai uma pessoa e volta outra (mais encardidinha também!) e é inevitável um dia sequer não agradecer tal oportunidade e as companhias. É aquele destino que a gente quer voltar sempre e sempre, até criar raízes e não sair mais de lá.






terça-feira, 26 de julho de 2016

Correndo



Faz um pouco mais de um ano que comecei a correr. Lembro como se fosse hoje. Não comecei a correr porque eu queria emagrecer, nem porque queria parar de fumar (nunca fumei), eu comecei a correr simplesmente porque minha analista mandou. Eu fui correr, extremamente emputecida, porque eu estava com muita raiva. Minha analista tinha me dito que eu deveria extravasar minha raiva na corrida e mandou eu correr. Esperneei, confesso. Falei que ela não mandava em mim, que eu fazia o que queria, que isso e aquilo. Jurei nunca mais olhar na cara dela. Mas fui lá e dei o primeiro passo - e voltei para nosso bate-papo de sempre.

Foi horrível, eu confesso. Mal corri 100 metros e eu já queria sentar, ir pra casa, abrir uma cerveja ou um pacote de bolacha recheada. Me questionei durante 45 minutos, o que eu estava fazendo, que tipo de tortura era essa? A primeira semana foi a mais complicada, eu achei que morreria a qualquer momento. A segunda semana foi motivadora, já conseguia correr 2 minutos sem parar. Na terceira semana veio a euforia, em um ritmo leve e progressivo, alcancei meu primeiro quilometro ininterrupto, juro, quase pedi a bombinha de ar. Depois, entre altos e baixos, segui a vida correndo. Acalmava minha mente conturbada dava ver que corria. O tal do cansaço mental, que vivia me rodeando foi sumindo, a insônia também, e a corrida virou meu alicerce motivacional.

Como consequência perdi alguns quilos - foi quando me dei conta que estava um pouco acima do peso. A meta, era apenas 5k, seja correndo e andando, ou só andando, ou só correndo - o importante era me movimentar. Até que, um belo dia, um mosquitinho me picou. Daí já não tinha mais o que fazer. Conheci pessoas extraordinárias correndo, que me motivaram a cada passo a ir um pouco mais além. A quilometragem foi aumentando. A satisfação também.

Percebi que, cada pessoa tem seu próprio ritmo, sua própria forma de encarar a corrida. Tem gente que é louco por pódio, tem gente que corre pra manter a forma, tem gente que corre pra acalmar a mente (sou desse tipo), tem gente que corre pra acompanhar os amigos, e cada pessoa corre por um motivo. O difícil hoje, não é correr, é parar de correr. Seja debaixo de chuva fina ou forte, sol escaldante, vento cortante - a corrida precisa ser feita.

A minha primeira corrida foi um verdadeiro martírio. A última que eu fiz, fiz sofrida, mas a quilometragem foi bem maior - assim como a satisfação. Quando saímos da nossa zona de conforto e descobrimos que podemos bem mais - melhorando progressivamente - abrimos os olhos e vemos que as oportunidades aparecem quando estamos de fato preparados. 

Sim, eu poderia ter começado à correr 10 anos atrás. Poderia ser a rainha dos pódios, do pace baixo, da postura perfeita e da pisada exemplar. Eu poderia estar bem melhor do que hoje - mas eu estou tão feliz da forma que me encontro que, a corrida entrou na minha vida no momento certo e preencheu absolutamente todas as lacunas que antes eu nem sabia porque estavam ali. 

Se você puder correr, corra! Corra contra o tempo se isso foi benéfico pra você. Nossa vida é tão corrida, tão atarefada, que muitas vezes o nosso botão de "desligar" não é um travesseiro, e sim um par de tênis confortável, o vento na cara e um passo de cada vez. 


segunda-feira, 23 de maio de 2016

2.8


Acordo com 28 anos, lembrando vagamente do dia que fiz 4. Com um dos meus vestidos super rodados, com meus cabelos presos em laços mega enfeitados, com a Tia Vera fazendo as bonequinhas que seriam lembranças da festa que aconteceria mais tarde. 

Antes eu pegava o primeiro voo pra curtir meu feriado prolongado ou as férias tão esperadas e chegava no pique, com o roteiro todo planejado, pra aproveitar cada canto a cada momento. Voltava no ultimo voo, capotada, e no dia seguinte estava no batente. Hoje eu analiso friamente os voos disponíveis, de acordo com a hora que eu terei que acordar para ir até o aeroporto, e volto no primeiro voo disponível para poder descansar pra encarar o batente no dia seguinte. Disposição, minha filha, cadê você?

Antes eu saía quinta, sexta, sábado e se tivesse festa no domingo, eu estava lá. E eu conciliava toda a festança com faculdade e trabalho. Eu tinha pique para encarar toda aquela muvuca, fila pra entrar na balada, fila pra comprar a cerveja, fila pra usar o banheiro, fila pra pagar a comanda e ir embora pra casa. Hoje eu tenho trauma de fila, se vou no supermercados e tem fila, eu largo tudo e vou pra casa. Festa? Só se for de criança e tiver cadeiras ou casamento de alguma amiga muito próxima. Encontrar os amigos? Só se for em casa e eu puder usar chinelo. Paciência e disposição, cadê você? 

Como a data é minha, vou falar sobre o que eu acho: Que não me falte dinheiro, nem viagens, nem livros, nem oportunidades de evoluir. Daqui pra frente, que as coisas fluam com mais leveza. Que me sobre mais tempo para passar com o Luigi. Que eu seja mais inteligente do que ontem. As responsabilidades dos 30 chegando. Que os fios brancos errem o caminho da minha cabeleira. Que eu encontre muitos motivos para sorrir. Que eu separe a qualidade da quantidade. Que eu mande menos pessoas se lascar. Que minha paciência se multiplique como gremlins. Que no meu cofrinho, tenha dinheiro suficiente pra me levar para bem longe sem passar fome. 

Que eu tenha um pouco da garota de 12 anos e da criança de 5 anos que já fui. A disposição dos 18, a prudência dos 25, a irreverência dos 16, os sonhos de todos esses anos. Que eu tenha fé que chegarei na mesma idade da Martha Medeiros, sem crise nenhuma, ou se eu tiver, que eu saiba administrar muito bem. 

Aos 28 anos eu desejo perseverança, porque daqui pra frente, eu definitivamente paro de contar, pela minha própria sanidade!


quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Chico


O Chico foi o irmão mais novo, embora mais velho do Charlie por apenas um dia e meio. O Bilbinho durou mais tempo, mas nessa época o tataravó do Charlie nem tinha nascido ainda. Ele ganhou ração premium, uma cama, um quintal tão grande que, para seu porte era pequeno demais. Mas o Chico não queria casa, nem comida, nem roupa lavada. o Chico queria a liberdade de ir e vir, liberdade esta estabelecida na constituição de 88, direito adquirido muito antes da Flá o achar e o transferir sua tutela a mim.


Chico nunca quis ser de ninguém. Chico quis ser de todo mundo. Dócil, simpático e persuasivo, com seu olhar 43 conquista o coração mole de qualquer pessoa, em troca de um pouco de carinho e uma refeição boa.

Espirito mochileiro e alma viajante, Chico anda mais que noticia boa e ruim juntas. Conhece Atibaia inteira, sabe onde todo mundo mora. Já flertou com as patricinhas de quatro patas e com as desgarradas do morro. Já acompanhou atletas em suas corridas matinais e protegeu seus protetores dos guardas que extorquem a luz do dia. 

O Chico foi embora, numa segunda-feira ensolarada. Foi em busca de seus antigos donos que moram sei lá onde em sei lá qual rua. Ele não olhou pra trás, saiu correndo como se soubesse o caminho de volta para sua verdadeira casa e nem sequer disse adeus para seu irmão-baixinho-encrenqueiro que um dia seria seu melhor amigo e dividiria seus brinquedos. 

Chico deveria ter seus 4 anos, ou 5, não sei. Foi chamado de bebezão, foi coberto para dormir, recebeu boa noite na unica noite que ficou aqui. Isso já faz mais de 03 meses, mas parece que foi ontem. As vezes penso tê-lo visto vagando, volto o carro e vejo ser outro cachorro, sim, outro cachorro que fora abandonado por sua família, por ter comido meia dúzia de chinelos ou uma calota de um carro, por ter feito muita festa quando seu pai ou sua mãe chegou, ou por ter mijado o quintal recém lavado. 

É duro ver o número de animais vagando pelas ruas, amedrontados, com fome e procurando o caminho de casa. Sim, eles não tem noção de que foram abandonados. Eles são leais, eles não imaginam que suas "famílias" se cansaram deles. Triste, lamentável, incompreensível, revoltante. Eu sei. Acham que são descartáveis, como uma garrafa vazia. Não, eles não são. Eles precisam de comida, carinho, lar. Precisam de atenção, um pouco de amor - muito amor - mas como não são exigentes, o pouco já satisfaz. 

Eu espero que o Chico tenha encontrado um lar que tenha preenchido seu coração e que o tenha feito ficar. Eu o procurei, eu o achei e ele fugiu, mas uma vez. Eu senti muito, porque eu simplesmente não o queria na rua, a mercê de seres de coração peludo que envenenam seres inocentes gratuitamente por pura maldade. Eu espero que ele esteja feliz, seguro e alimentado. Com o nome que tenha dado ou que venha a ter. Sempre será meu Chico, o irmão-mais-novo-embora-mais-velho-que-o-Charlie.

Seja humano como a Flávia, como a Ane, como a Rita, como a Rosa. Alimente um cão de rua. Adote um cão de rua. Ame um cão de rua. O Amor é gratuito e a reciprocidade SEMPRE será verdadeira.

E nesse ano, o Charlie querendo ou não, será promovido à irmão mais velho. 



segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

E as metas?

Eu poderia te dizer que, cumpri minha meta em 2015, que não foi deixada em aberto e muito menos dobrada, mas estaria mentindo. Esqueci metade das metas que planejei em 2014 e adotei outras que sequer cogitei algum dia adotar. 

O que foi esse ano, hein?

2015. Um ano que tinha tudo pra ser super-mega-hiper-blaster bacana. Na numerologia, quando a soma dos números dá 8 é um ótimo sinal. Equilíbrio, tranquilidade, prosperidade. A soma das letras e os números do meu carro são 8. O numero da minha casa, dá 8. Mas comigo não tem muito dessa de ser 8. Ou sou 8 ou 80. 2015 não ia ser um ano 8, porque primeiro, eu não sou chegada em anos impares, e porque segundo, eu precisaria de um 80 para equilibrar a coisa toda. 

Uma montanha-russa de janeiro à dezembro, ora achava que era uma montanha-russa passando pela casa dos horrores, ora uma montanha-russa que me proporcionaria uma vista panorâmica de tudo, ora uma montanha-russa que tinha tantas curvas que me deixou extremamente enjoada, ora uma montanha-rusa que puta-que-pariu, não terminava nunca.

Janeiro foi aquela euforia tremenda. Vou emagrecer! Vou estudar pra valer! Vou entrar numa MBA! Vou guardar menos rancor! Serei mais organizada! Comprei um cofrinho pra juntar grana pra poder viajar. Comecei super bem, até que....

Fevereiro chegou em ritmo de festa, carnaval, cerveja, Luigi chegando e conquistando meu coração de pedra-peluda. Arthur comemorando seu primeiro aninho e eu comendo mais do que deveria e a balança quase apontando o numero do meu telefone. Mas...

Março o trem começou a descarrilhar. Algumas mascaras começaram a cair e eu comecei a ficar meio estressadinha, ativei o botão da negação interna (negação interna é um termo psicoterapêutico quee traduz, de uma forma bem simples, quando você se nega a aceitar e a fazer algo para mudar uma situação de sua vida). Foi tenso, foi chato e eu queria que o mês acabasse logo e...

Abril chegou trazendo toda a esperança que as águas de março tivessem levado  embora toda aquela uruca maligna lançada pelas inimigas-fingidas-de-amigas. Fui milionária por quatro dias inteiros. Não que isso seja grande coisa, mas no Paraguai todo mundo é milionário, mesmo que por um dia e isso ergue a autoestima que é uma belezura.

Maio veio pra esfregar na minha cara que eu estava ficando velha. Aniversário é uma coisa que a gente até tenta esconder, mas quanto mais você não gosta, mais as pessoas lembram. Dai a gente resolve aceitar que envelhecer faz parte do processo todo de evolução e amadurecimento e que você tem que tomar certas decisões para seguir em frente. E nessa aceitação, tomei certas atitudes que tornaram ...

Junho um mês intenso e extenso. Voltei ao tempo para resolver coisas do passado e encontrei muita merda pelo caminho. Deu a louca, eu sei, comprei uma serra elétrica e cortei pela raiz a arvore genealógica do qual pertencia. Descobri que família é um bicho complexo e intrometido pra burro, que fala mais do que sabe e  ferra a vida de muita gente em nome de um ser superior, pessoas cheias de princípios que não tem meios e muito menos fins. Mas teve festa junina, quentão e amigos pra montar o quebra-cabeça que virei.

Julho foi tempo de equilíbrio e reencontro. Questionamentos e respostas. Descobri que precisamos nos perder vez em outra, para acharmos nosso verdadeiro eu. Mês que mais pensei do que agi. 

Agosto foi o mês mais longo e demorado da minha vida inteira. Eu sei, tem um quê de drama aí. É que o mês passou em passos de tartaruga e eu que estava acelerada demais queria que ele voasse. De tão acelerada entrei num grupo de corrida, pra gastar toda essa energia catalizadora e agregar uma remédio tarja branca na minha vida cheia de ladeiras acima e abaixo. Taí uma coisa que nem de longe estava na minha listinha O que fazer em 2015.

Setembro corri, bebi e comi. Mal vi os amigos. Corri mais um tantão.

Outubro participei da minha primeira corrida. Corri

Novembro - corri, corri e corri.

Dezembro meti o pé na jaca. Agradeci tanto pelo ano finalmente ter acabado, que resolvi fazer da jaca minha pantufa pra comemorar a virada de ano, em busca de um ano mais centrada, mais honesto e mais calmo.

Já tracei minhas metas para 2016. Já estou cumprindo algumas. Continuo correndo, tanto na prática, quanto no sentido figurado da coisa. E essa montanha-russa que desce-e-sobe-e-vira-e-revira vai continuar. 8 ou 80 - é assim que sempre vai ser.