quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Minha primeira corrida

Em agosto entrei em um grupo de corrida para aprender a correr corretamente. Um projeto muito bacana do Balance Studio. 45 dias numa rotina diferente, correndo. Eu que era do pilates pro ioga, do ioga pro pilates, entrei nessa, com a intenção da corrida se tornar meu remédio tarja branca (Mais um, já que as palavras são, oficialmente o meu tarja branca predileto). 

No primeiro dia, eu me perguntei o que eu estava fazendo ali, correndo como uma pata e sentindo que todo o ar do mundo estava sendo roubado dos meus pulmões. Muita gente daquele grupo pensava exatamente a mesma coisa, tenho certeza. No segundo dia, a coisa tinha melhorado um pouco. Eu já conseguia correr um minuto sem achar que aquilo era o fim do mundo, mas meu coração estava na boca, e queria me abandonar na primeira oportunidade. A partir do terceiro dia as coisas começaram a melhorar. Conseguia correr 400 metros, depois 700 metros, 1.000 metros respirando. Pois é, no inicio eu achava completamente anormal correr e ainda exigir que eu respirasse ao mesmo tempo. Mas uma hora a gente aprende.

O projeto acabou, continuei correndo esporadicamente e tive a audácia de me inscrever numa corrida. A Flávia, grande amiga topou correr comigo (Mas ela corre muito, há muito tempo). 

A corrida aconteceu na noite de halloween. Toda temática. Noturna (já que é quase impossível eu correr de manhã). E eu fiquei apavorada na última hora. Morri de medo de ser pisoteada, sonhei que era a última a chegar e não tinha mais ninguém lá, e o calor que estava fazendo em Atibaia, era capaz de atrair todas as baratas do estado para a tal corrida. A Flávia falou que eu tinha que ficar tranquila, que tudo daria certo e eu terminaria a corrida sã e salva. Lá fomos nós. 

O primeiro 1,5 km foi razoavelmente tranquilo. Tinha um guri, de uns 6 anos correndo com a mãe no maior pique do mundo. Ai se tornou uma obrigação continuar correndo, respirando, olhando pro chão pra ver se tinha alguma barata me seguindo, olhando pro lado pra ver se a Flávia não tinha sumido. Eu tinha rezado o dia inteiro pra chover, pro clima ficar mais fresco, mas a noite estava abafada. Em determinado momento, meu sangue começou a ferver, eu sentia meu rosto queimar, eu precisava de água e eu nem tinha corrido 2 km. Mas eu tinha que seguir em frente, o gurizinho mini-atleta já estava lá na frente e eu tinha que alcançá-lo. 

Veio a ladeira, veio a descida, veio a estrada de terra, veio um sapo do meio da rua. De repente, muitos sapos cantarolando. Deu 3 km. Nesse exato momento eu comecei a perguntar que diabos eu estava fazendo ali, que raio de insanidade tinha me atingido e o que eu estava fazendo em pleno sábado a noite correndo, encontrando sapos e correndo o risco de encontrar baratas voadoras. Deu 4 m. A Flávia não queria que eu parasse, ela ficava: Vamos Bru, só falta mais 2 km, respira pelo nariz, solta pela boca. Nessa hora, comecei a sentir que pisava nos meus próprios dedos, e isso doeu muito. Eu queria correr, mas ao mesmo tempo queria respirar. Eu só queria que aquele sofrimento gratuito terminasse logo.

Quando a Flávia me disse: Vamos Bru, agora falta 1 km! Quis chorar. Sentar literalmente no meio da rua e chorar e espernear. Eu não aguentava mais. Era calor, era cansaço, era dor, era todo aquele povo desanimando. Eu queria andar, mas eu queria acabar com tudo aquilo rápido. A Flávia: Bru, só mais 200 metros. Se quiser me manda a merda. Eu nem tinha forças pra responder, se eu mandasse ela a merda, eu não teria mais ninguém me incentivando a continuar. A minha vontade de terminar aquela corrida era maior que tudo. Daí a Flávia: Bru, falta 100 metros, olha a chegada ali. Pára tudo. Naquele exato momento começou a câmera lenta. Juro por todas as trakinas de morango do mundo. Aquela chegada não chegava nunca, foram os segundos mais longos da minha vida, sem exagero nenhum. A corrida terminou. A Flávia me parabenizou. Foram 44 minutos ao total. Uma eternidade. Eu sentia que tremia do dedão do pé pisoteado, ao fio de cabelo ensopado de suor. O guri mini-atleta fez o mesmo tempo que o meu (que fique claro que não fui eu quem fez o mesmo tempo dele). Peguei minha medalha. Peguei o picolé de chocolate que estava distribuindo. Fui embora. Queria minha casa, meu sofá, queimar o tênis.

Minha primeira corrida foi envolvida de muita ansiedade e medo. Eu não tinha noção alguma de como aquilo seria. Meu desempenho foi bom, o tempo foi a média que sempre fiz. A Flávia disse uma coisa antes da corrida começar que fez total sentido o percurso inteiro. A corrida é o esporte mais solidário de todos. Do inicio ao fim eu escutava pessoas incentivando as outras, pessoas como a Flávia que, já foi corredora profissional, correndo do mesmo ritmo de iniciantes e motivando, guardando água, perguntando se está tudo ok. Eu que sempre busquei esportes individualistas por achar que, eu era uma negação e prejudicaria o time com a minha falta de coordenação motora, percebi o quanto é importante ter alguém ao lado incentivando você a dar só mais um passo, acreditar que você pode concluir e que não é uma insanidade em pleno sábado a noite sair pra correr.

A corrida ainda não é meu remédio tarja branca, os textos sim. Hoje, três dias depois da corrida eu consigo achar graça de tudo. Até cogito participar de uma outra corrida, em um futuro bem próximo. As corridas cotidianas, continuarão, até porque, um treinamento para encarar uma outra corrida é necessária, já que fiquei com a depressão dos 3 km. Hoje eu sei o que esperar, sei como colocar o chip e a respeitar minha velocidade natural.

Ah! Não fui pisoteada, não cheguei em último lugar, ganhei uma medalha, não queimei meu tênis. Minhas canelas ainda doem, mas estou bem satisfeita com o resultado final. Daqui um ano posso estar capacitada para um possível pódio, mas isso nem de longe será uma prioridade, a próxima corrida eu quero aproveitar mais, e quem sabe, ajudar outras pessoas a não desistirem quando só faltar 100 metros (Né Flávia?). 




segunda-feira, 2 de novembro de 2015

O que te falta?

O que falta na sua vida? Aquela casa top na praia? Aquele carro do ano? Aquele marido compreensivo? Aquela esposa inteligente? Filhos bem educados? Dinheiro na poupança? Viagens 05 vezes ao ano? IO bolo de fubá da sua avó? 

Pra mim, falta paciência. Indiscutivelmente. Ontem, hoje e amanhã. Paciência para esperar, para aceitar os contratempos que dão um banho de água fria nos meus planos. Paciência pra não mandar certas pessoas pra onde Judas perdeu as botas, paciência para ler o livro com toda calma do mundo. Para os poetas, falta um pouco de sofrimento pra aflorar as palavras cantadas e rimadas. Para os jornalistas, deve faltar palavras para transformar frases em bons textos. Para os advogados, argumentos. Para os vendedores, clientes. Para os alunos, interesse. Para os educadores, motivação. Para os engenheiros, obras. Para os bancos, devedores. Para os corredores, um tênis perfeito. Pra gente sem vergonha, um belo tapa no pé da orelha. Para o governo, desculpas. 

As vezes, falta dinheiro no resto do mês. Falta um pouco de compaixão com o próximo. Falta coragem. Coragem pra quê? Pra reconhecer que errou, que pisou na bola, que fez meleca no meio de campo, ou simplesmente sair da zona de conforto e tentar ser feliz de outra maneira. Está faltando água, árvores, clareza nos sentimentos e nas intenções. Falta felicidade, e não a felicidade comprada, mas aquela que surge numa roda de amigos ou sozinha numa praça, e traz uma gratidão tão grande que você se pergunta: Se eu tenho isso, não preciso de mais nada, certo? Então o que é que eu realmente estou buscando? Eu sei, está faltando dinheiro no bolso de muita gente e sobrando na cueca de outras tantas. Precisamos nos alimentar, nos vestir e o dinheiro é nossa moeda de troca. Falta ética, dignidade e respeito. Por ora, falta a tal busca de tal coisa que nem sabemos, de tão perdido que estamos nessa falta de direção.

Falta viver sem padrões. Falta ser honesto consigo. Falta ser honesto com os outros. Falta ser feliz por nada, e por tudo também. O que falta para todos nós é consciência de que o que falta para alguns, sobra para outros. Um ciclo viciante? Sim. Acumulamos tanto que vivemos vazios, somos ocos em conceitos e considerações. Cegos para a verdade que está bem debaixo do nariz, falta separar a emoção da razão, o certo do errado. Falta cultura, paixão, meta, sonho, vontade, ambição. 

Falta maturidade para alguns; espirito esportivo para outros. Falta um empurrão para alguns; um chega pra lá para outros. Falta mais dias chuvosos com chocolate quente e pensamentos à solta para encontrar o equilíbrio de não ter absolutamente tudo sob controle. 

Falta gratidão pelos danos, erros, tombos. Pelas decepções, desencontros, sofrimentos. Gratidão por todas as desventuras que te trouxe até aqui, pela cicatriz que traz a tona aquele tombo espetacular de bicicleta, mas que te ensinou a pedalar com precisão. Falta um "beijo pra sarar" da mãe, quando a vida nos vira do avesso e nos obriga a tomar outra direção, sem ao menos nos dar um tempo para chorar. 

O que te falta pra ser feliz, seguir em frente e desatar todos os nós?