Gosto muito de quebra-cabeças, ficar ali, procurando pecinhas que se encaixam, dando um resultado final deslumbrante, para depois enquadrar e colocar na parede, como um troféu por tamanha paciência e determinação. Mas não dá para brincar de juntar pecinhas quando um copo se espatifa pelo chão. Corrigindo, até dá, mas o resultado final não é tão deslumbrante como um quebra-cabeças montadinho. Dá para ver cada remendo, tem lasquinhas de nada que se escondem, debaixo do fogão, geladeira, mesa, transformando aquele copo, deixando marcas de que, ele não é tão novo assim, e que já caiu. Ele não é mais o mesmo copo.
A mesma coisa acontece com a gente, após cada queda, quando levantamos, já não somos mais os mesmos. Quando quebramos um pé ou um braço, por mais que fiquemos quietinhos, seguindo religiosamente a recomendação médica, os ossos não colam exatamente no mesmo lugar, e aquele osso, nunca mais será o mesmo. Amadurecemos a cada tombo ou tropeço. Aprendemos que, a partir daquele momento, nada será como antes. O braço, não poderá ser tão forte quanto antes, e o pé, não ter tanta firmeza. A cautela é adquirida, e aprendemos, mesmo que de forma forçada, a optar por outros caminhos, readaptarmos nossa vida, mesmo que essa readaptação seja difícil, restrita.
A positividade, ajuda e muito. Assim como a paciência e a perseverança de que, logo menos, cada pecinha se encaixará, a recuperação será rápida, e por mais que nada seja como antes, a nova fase será de grande aprendizagem e crescimento, onde haverá superação e descobertas, que só agregarão.
Em determinado momento, nossa vida vira um quebra-cabeças - incompleto. Precisamos achar cada peça, e juntá-la a sua parte compatível. E não dá para ver o resultado final de imediato, cada peça é colocada dia a dia. Algumas pessoas podem nos ajudar - mas nunca podem montar por nós, mas na maioria das vezes, essa montagem é feita de forma individual.
Depois de cinco anos, reencontrei velhas peças da minha vida que estavam escondidas: a bota e as muletas. Hoje, elas são peças fundamentais no meu quebra-cabeças voltaram para me ensinar que a paciência é mais sábia que a agilidade, que a gratidão é mais sábia que a reclamação, e que há tanta beleza ao meu redor, que eu não preciso ficar correndo contra o tempo para me sentir eficaz. E que há males, que vem para o bem.
Uma peça - ou um passo - de cada vez. A vida é assim, um quebra-cabeças sem fim.