quinta-feira, 29 de agosto de 2013

A arte de dizer adeus


Dizer adeus é muito difícil, e isso engloba dizer adeus para uma pessoa querida, para o fim de um relacionamento, para mudanças de etapas, mudança da casa antiga, mudança de emprego. É difícil reorganizar a vida, deixando para trás coisas que antes faziam sentido, mas hoje já não fazem. Até para um bolo delicioso é difícil dizer adeus.

Até nossas certezas em determinada altura da vida precisam ser despachadas com um belo adeus. Sim, é doloroso, mas além de preciso, é necessário.

Um dia desse eu cai antes de cair à ficha. Eu precisava, de forma urgente, dizer adeus à velhas manias, filosofias, objetos, sentimentos. Precisava me desapegar. E simplesmente não era apenas pegar toda essa tralha e jogar pela janela ou deixar na lixeira para o caminhão de lixo levar, eu precisaria me despedir diretamente, assim como nos despedimos de alguém em um aeroporto ou rodoviária: precisava agradecer por tudo que já fizeram por mim, mas cada um deveria seguir seu próprio caminho.

Eu que sou uma pessoa muito apegada, encarei como uma tarefa de superação. Ia ser doloroso, tenso, cheio de crises e discussões, mas deveria acontecer. Arregacei as mangas e fui à batalha.

Comecei por roupas e objetos; fiz uma limpeza geral no meu quarto. Muita coisa saiu, espaços foram abertos, e eu fui me despedindo de cada coisa, sem aquele peso de culpa, sem aquela sensação de perda, assim como pessoas entram e saem de nossas vidas, objetos e roupas seguem o mesmo caminho: chega uma hora que não há outra alternativa além de ir.

Depois parti para meu eu interior. Eu tinha que despachar sentimentos de culpa, de impotência, de egoísmo. Mandei a culpa embora, com cara de poucos amigos, ela fez um belo estrago em mim nos últimos tempos. Da impotência me despedi cordialmente, ela também não estava me ajudando em nada. O egoísmo era uma família inteira, uma parte foi embora juntamente com a limpeza do meu quarto, a outra parte ia agora, com sentimentos que já não eram mais necessários.

Preconceitos sem fundamento, inveja sem motivo, raiva sem raiz, mágoa supérflua, disse adeus para todos. Fiz uma limpeza interna, me tornei aberta ao novo.

Lógico que, com toda essa limpeza, ficou um vazio dentro de mim. Um vazio que futuramente seria preenchido com outros sentimentos, percepções que me ajudariam a evoluir, a progredir.

Novas certezas apareceram, as dúvidas saíram de fininho pela portas dos fundos, a tristeza ficou no canto dela, e a felicidade começou a desbravar o território no intuito de dominar tudo.

Eu disse adeus pro velho, pro dispensável, pro que não surtia mais efeito, eu criei espaços, deixei que o novo entrasse e me mostrasse a outra face da moeda que antes eu não consegui enxergar.

Doeu? Doeu um pouco. Foi difícil? Muito mais do que eu imaginava. Mas o resultado... O resultado sempre vai além das expectativas, do preestabelecido, do imaginável.


E dizer adeus é uma arte, que vez em outra deve ser apreciada e divulgada. E como se fosse um banho, sempre manda toda a sujeira embora e renova as energias.

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