sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Último dia


Me peguei pensando no último dia de aula do colegial. Foi um dia extremamente emotivo. Eu chorei horrores e meus olhos ficaram tão inchados, que se senti descendente direto do sapo. Eu nunca havia chorado, um dia sequer no colégio. Mas naquele último dia de adolescente eu me permitir abrir o berreiro em nome das saudades futuras que viria a sentir.

Chorei por sentar no meu lugarzinho pela última vez, por ter que crescer, pelos amigos que eu não veria diariamente. Sentiria saudades da diretora gritando pelos corredores com os alunos atrasados, das aulas de física que eram incompreensíveis, dos "ai ai ai" da professora de química se lamentando porque o fichamento não foi entregue. Saudades dos intervalos cheio de risadas e guloseimas, dos trabalhos em grupos que só saia algo de último no último minuto do segundo tempo. Saudades das provas fáceis, dos cadernos cheios de figurinhas. Saudades até daquele povinho que eu não ia muito com a fuça.

Mas no último dia, a gente nem tem muito tempo para pensar nas coisas ruins. Só aparecem as coisas boas na mente, numa retrospectiva que dá uma vontade imensa de agarrar e ficar ali, naquele momento onde você já nem é mais um adolescente, mas também não é um adulto. Querendo ou não, uma vida foi construída ali, entre carcadas e trabalhos, provas e seminários, era uma família constituída. Uma família cheia de diferenças, repleta de ovelhas negras e bons pastores. 

Foi difícil ir embora naquele dia, porque ir embora, de fato é difícil, até que simplesmente você vá embora. Coloquei minha mochila das costas e saí andando rumo ao ponto de ônibus, de volta pra casa. E não seria uma volta normal, como todas as outras. As férias estavam ali, desesperadas pelo um abraço de boas-vindas, mas seria umas férias eternas, caso eu não entrasse na faculdade (que por sorte, entrei em seguida).

Eu não lembro do meu último dia de aula na faculdade, porque lá eu não criei raízes, mas do colegial, até hoje lembro o rosto de cada colega de sala, nome e sobrenome, até das conversas e debates que vira e mexe acontecia.

Ali foi o último dia que eu fui uma adolescente despreocupada, que tinha amigos despreocupados. 

E quando entrei no ônibus, olhei pela janela e vi o colégio ficando cada vez mais distante. Ali foi o último dia de um volume da minha vida, que daria a oportunidade para o primeiro dia de muitas descobertas inimagináveis.

Nenhum comentário:

Postar um comentário