quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Chico


O Chico foi o irmão mais novo, embora mais velho do Charlie por apenas um dia e meio. O Bilbinho durou mais tempo, mas nessa época o tataravó do Charlie nem tinha nascido ainda. Ele ganhou ração premium, uma cama, um quintal tão grande que, para seu porte era pequeno demais. Mas o Chico não queria casa, nem comida, nem roupa lavada. o Chico queria a liberdade de ir e vir, liberdade esta estabelecida na constituição de 88, direito adquirido muito antes da Flá o achar e o transferir sua tutela a mim.


Chico nunca quis ser de ninguém. Chico quis ser de todo mundo. Dócil, simpático e persuasivo, com seu olhar 43 conquista o coração mole de qualquer pessoa, em troca de um pouco de carinho e uma refeição boa.

Espirito mochileiro e alma viajante, Chico anda mais que noticia boa e ruim juntas. Conhece Atibaia inteira, sabe onde todo mundo mora. Já flertou com as patricinhas de quatro patas e com as desgarradas do morro. Já acompanhou atletas em suas corridas matinais e protegeu seus protetores dos guardas que extorquem a luz do dia. 

O Chico foi embora, numa segunda-feira ensolarada. Foi em busca de seus antigos donos que moram sei lá onde em sei lá qual rua. Ele não olhou pra trás, saiu correndo como se soubesse o caminho de volta para sua verdadeira casa e nem sequer disse adeus para seu irmão-baixinho-encrenqueiro que um dia seria seu melhor amigo e dividiria seus brinquedos. 

Chico deveria ter seus 4 anos, ou 5, não sei. Foi chamado de bebezão, foi coberto para dormir, recebeu boa noite na unica noite que ficou aqui. Isso já faz mais de 03 meses, mas parece que foi ontem. As vezes penso tê-lo visto vagando, volto o carro e vejo ser outro cachorro, sim, outro cachorro que fora abandonado por sua família, por ter comido meia dúzia de chinelos ou uma calota de um carro, por ter feito muita festa quando seu pai ou sua mãe chegou, ou por ter mijado o quintal recém lavado. 

É duro ver o número de animais vagando pelas ruas, amedrontados, com fome e procurando o caminho de casa. Sim, eles não tem noção de que foram abandonados. Eles são leais, eles não imaginam que suas "famílias" se cansaram deles. Triste, lamentável, incompreensível, revoltante. Eu sei. Acham que são descartáveis, como uma garrafa vazia. Não, eles não são. Eles precisam de comida, carinho, lar. Precisam de atenção, um pouco de amor - muito amor - mas como não são exigentes, o pouco já satisfaz. 

Eu espero que o Chico tenha encontrado um lar que tenha preenchido seu coração e que o tenha feito ficar. Eu o procurei, eu o achei e ele fugiu, mas uma vez. Eu senti muito, porque eu simplesmente não o queria na rua, a mercê de seres de coração peludo que envenenam seres inocentes gratuitamente por pura maldade. Eu espero que ele esteja feliz, seguro e alimentado. Com o nome que tenha dado ou que venha a ter. Sempre será meu Chico, o irmão-mais-novo-embora-mais-velho-que-o-Charlie.

Seja humano como a Flávia, como a Ane, como a Rita, como a Rosa. Alimente um cão de rua. Adote um cão de rua. Ame um cão de rua. O Amor é gratuito e a reciprocidade SEMPRE será verdadeira.

E nesse ano, o Charlie querendo ou não, será promovido à irmão mais velho. 



Um comentário:

  1. bruuuu que texto lindo! adorei!
    saudades do chico
    mas tenho um thor se quiser ele para ser o irmao do charlie! hehehehe

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