quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Tudo muda

"Para chegar onde quer que seja, aprendi que não é preciso dominar a força, mas a razão. É preciso, antes de mais nada, querer." 

Amyr Klink - Cem dias entre o céu e o mar



Passei semanas encaixotando algumas coisas e jogando outras tantas fora. Isso fica, isso não. Isso vai pro lixo e isso pra doação. Fui me desapegando aos poucos de tanta coisa, pra não sofrer tudo de uma só vez. Meu coração não anda bom, palpitações me acordam as três da manhã, então é melhor conter as emoções. Ainda sou muito nova para morrer, embora uma pessoa de 45 anos tenha me chamado de tia - o que realmente me abalou psicologicamente. 

Desde pequena passei por várias mudanças de casas, de um aluguel ao outro até meus pais adquirirem a casa própria quando eu tinha sete anos. E eu lembro que foi uma felicidade imensa, porque logo eu (acreditem) sempre odiei mudanças. Eu sempre perdia algo nas mudanças. As casas sempre sequestravam uma parte de mim.

As prateleiras começaram a ficar vazias - os armários também. As paredes com tantas bolinhas pretas -  que foi um dos melhores passatempos na minha morada independente e irreverente, que eu queria que fosse aconchegante e cool - ficaram cruas; a bancada com porta retratos de cada momento vivido, estava vazia. Aos poucos fui desfazendo meu lar e o transformando em uma casa qualquer - do jeitinho que era quando cheguei.

Senti um vazio - e outro nó na garganta. Sim, eu estava sozinha fazendo tudo isso, mas dei um bocejo pra disfarçar a vontade de chorar pro Charlie não perceber. Ando extremamente emotiva, a TPM deve ter armado a barraca dentro de mim, só pode.

E cada quadro tirado, a  pilha de caixas aumentando, me libertava e aceitava que a mudança seria positiva. A mesa de piquenique tão sonhada já tinha um novo lar, que eu nem fiz questão de saber onde era esse tal novo lar, pra não correr o risco de ir lá, chorar as pitangas e pegá-la de volta. A piscina vazia fez uma saudadezinha boa de se ter, chegando devagarinho e lembrar que até o Charlie ali nadou. O balanço que o vento "balança", que hoje está solitário na varanda outrora cheia de coisas e cores mostra que por ali, passaram crianças e adultos que não resistiram numa balançadinha qualquer. 

Logo eu, que achei que ali criaria raízes e ficaria até o fim dos meus dias, já estava de malas prontas pra mais uma nova morada. Uma nova casa que logo menos virará um novo lar. 

A pior parte foi vê-la vazia. Parecendo uma casa qualquer, com o cheiro de tinta forte, graças as paredes recém pintadas. Paredes estas que tem muitas gargalhadas arquivadas. Quando fechei a porta e olhei para aquele gramado imenso que tantas vezes o Charlie sumia no meio dele, o coração apertou. 

Deste momento em diante, mais uma vez, minha vida muda completamente. Um novo livro, uma nova etapa. Novos objetivos, novos rumos. O tempo verbal focado apenas no presente, sem pretérito perfeito, imperfeito ou mais que perfeito, só a espera de um futuro tranquilo - que ocorra no tempo certo. 





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