terça-feira, 8 de julho de 2014

Vaga-lume


Um dia desses cheguei em casa e não tinha energia elétrica. Daí descobri o quanto minha mãe é a pessoa mais prevenida do mundo e eu não. Sempre que faltava energia elétrica na casa dela, todos saíamos à caça de velas. E a gente achava vela na gavela do armarinho do banheiro, vela atrás do sofá, vela no altar dos santinhos que ela tanto agradava. Daí eu chego na minha casa e não tenho velas em nenhuma gaveta. Mas eu tenho uma lanterna, eu não faça ideia de onde, mas eu tenho. 

Mas a desvantagem do inverno é isso. Escurece cedo. E como eu vou achar a bendita lanterna com a luz do meu celular? Será um milagre. Mas eu resolvo desistir. Vai ser um parto de girafa tal missão, levando em conta que eu ainda tenho caixas lacradas da mudança. Eu deveria ter pego algumas velas da minha mãe, mas só quis os copos de requeijão por acreditar que eles eram inquebráveis - mas eles não iluminam! 

Deito na rede que fica na varanda, coloco o Charlie pra balançar junto comigo. As primeiras estrelas aparecem no céu, uma luz natural. Daí eu to lá, perdida na imensidão do que o céu representa na minha vida e eu vejo uma estrela mais perto. Opa? Como assim? Não é estrela! Mas que luz é aquela que se movimenta, que acende num lugar e apaga em outro? Vaga-lume minha gente!

E não é que esse extinto bichinho, que eu não encontrava há anos luz (isso não é uma ironia!) aparece para me iluminar as ideias e a casa? Como se fosse amigo íntimo, ele entrou iluminando minha casa e iluminando minhas lembranças antigas.

Daí como numa viagem no tempo, me deparo no sítio da minha falecida avó com oito anos de idade. Lá não tinha energia elétrica, a noite era iluminada por lamparinas, estrelas e vaga-lumes. E eu ficava completamente apaixonada por aquilo e era um momento tão gostoso que eu me permitia correr atrás dos vaga-lumes e queria engarrafá-los para que eu nunca ficasse sem uma luz na minha vida. E eu me sentia infinitamente feliz pelo fato de vivenciar tanta coisa diferente que não acontecia na minha casa.

Daí a ficha cai exatamente com o pouso do vaga-lume no armário da cozinha. Lá vinha o vaga-lume me ensinar de novo, depois de anos o que eu tinha me esquecido naquele sítio: Que a gente tem que ser feliz com o que tem e fazer disso a melhor opção que existe. A falta de energia elétrica não era um acontecimento para eu me sentir a mais desprevenida de todas as gurias que moram sozinhas, por não ter uma vela numa gaveta qualquer, mas sim para eu me sentir a mais afortunada de todas por ter um jardim enorme com uma vista espetacular para o universo.

Dentre todas as visitas que já recebi no meu "mini sítio" (considere os sapos, gambás, saguis, ratazanas) o vaga-lume foi o que mais me surpreendeu, talvez porque ele era o único que ia acendeu uma luz na minha cabeça e iluminar as oportunidades que ganho diariamente e quase não enxergo.

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