sábado, 19 de setembro de 2015

Não seria eu


Muita gente sabe que eu sou fã de carteirinha da escritora Martha Medeiros. O ultimo livro dela Simples Assim, trouxe alguns temas bem particulares e sensíveis, que se tornou tão esclarecedor que merece ter uma abertura aqui. Um dos temas que ela mais abordou foi de como mentimos para nós mesmos e como isso interfere diretamente em nossos relacionamentos interpessoais e pessoais.

Como assim, mentir? Mentimos para nós mesmos quando afirmamos hipocritamente que está tudo bem, quando na verdade não está. Quando engolimos sapos em reuniões familiares que não gostaríamos de estar. Quando dizemos que adoramos uma pessoa e a consideramos pra caramba e falamos mal dela pelas costas. Se queremos ser mentirosos com os outros, tudo bem! O duro é mentir diariamente para si mesmo, criar um mundo do qual não pertencemos.

Um exemplo? Meus pais se divorciaram quando eu tinha 11 anos. Eu morria de vergonha em ser filha de pais divorciados. Era algo que minhas amiguinhas na época nunca souberam. Hoje eu vejo que a melhor coisa que me aconteceu foi o fato deles terem se divorciado quando eu tinha 11 anos. Doeu? Muito! Demorei pra aceitar? Mais do que muitos imaginam. Mas minha revolta e minha mentira interna foram canalizadas para algo que me transformou no que sou hoje(e me orgulho muito disso), e se eles tivessem juntos até hoje eu não teria alcançado esse patamar. Uma amiga que, acompanhou o divórcio conturbado dos pais recentemente, me perguntou como eu aceitei e superei tudo isso. Eu dei risada, disse que não fazia a minima ideia de como tinha superado e se realmente superei.

Segundo as palavras da Marthinha, não dá para mudar o passado, o que é fato. A única coisa que dá para mudar é a forma que enxergamos tudo o que aconteceu e ver o que é possível perdoar, esquecer ou redimensionar. Você não deve perdoar as pessoas pelo o que fizeram ou deixaram de fazer, você tem que perdoar a si mesmo por ter criado expectativas e ter sofrido com a frustração de não ter as coisas sob o seu controle. Muita coisa não dá pra esquecer, fica enraizado ali, ouso até dizer que vira o alicerce, as estruturas que nos deixa seguir em frente.

Todos nós somos falhos e acreditamos que nossos critérios de julgamento sejam os melhores, os mais sensatos, os mais aplicáveis. Participei de um plenário de júri recente, e a promotora, muito sensata no meu ponto de vista, disse algo que me fez refletir. Estamos passando por um momento critico no mundo. Uma crise moral, ética e econômica que vem crescendo de forma veloz. As pessoas tem confundido o que é certo e errado de acordo com seus supostos valores, sem pensar nas consequências de suas atitudes. Perdemos aos poucos nosso senso de justiça e do certo, e o mundo está como está. 

Que a vida não é fácil, todos nós sabemos. Muitas vezes ela é bem sacana e nos vira do avesso, nos provoca a reagir e tomar posições, escolher de que lado queremos estar. Há coisas que nunca ficam esclarecidas, por mais que mergulhemos em nossas trevas internas e atravessemos à nado o oceano de nossas perguntas sem respostas. 

Tudo que dá errado, pode dar muito certo. E o que parece o fim do mundo, pode ser o inicio de um novo mundo. Tudo depende apenas de como encaramos as catástrofes familiares, profissionais e pessoais que nos atinge assim, de sopetão. Somos o resultado da criança que fomos: Criança sendo mimada pela tia, rejeitada pelo avó, empanturrada de bolos e outras guloseimas, criticada pelas notas baixas, sendo muito homem ou mulher antes da hora preestabelecida. 

Entre aproveitar a vida ou suportá-la, eu fico com a primeira opção. Se não fossem os danos, se não fossem as mentiras acreditadas, se não desse errado, não seria eu.



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