quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Silêncio

Enquanto escrevo este texto sobre silêncio, ouço cachorros latindo em algum lugar, carros sendo ligados – ou em movimento, o barulho da TV ligada na sala, pratos sendo lavados, meus dedos digitando. Não há silêncio absoluto, mesmo no topo da montanha mais alta escutaremos algo – o vento. O silêncio está em extinção.

Se você parar no trânsito escutará buzinas, freios, xingamentos, vozes, sirenes, não escutará o som do vento, um pássaro cantando, a água escorrendo. O silêncio se faz necessário, e o silêncio que eu digo, não é a ausência absoluta de sons, e sim ativar a percepção do equilíbrio.

Acampei nesses dias, em uma ilha. O camping ficava apenas à 500 metros da praia. A noite quando ia dormir, eu conseguia escutar as ondas quebrando, o vento balançando as folhas das árvores e aquilo, era um presente do silêncio pra mim. Mas eu só pude escutar tudo isso, porque eu permiti que o silêncio se alojasse em minha mente.

Parece que as pessoas tem medo do silêncio e cada dia que passa se enchem de itens barulhentos. Trocam vassouras por aspiradores de pó, a toalha pelo secador de cabelo. Pessoas que tagarelam o tempo inteiro, tornando-se inconvenientes mostram que tem medo do silêncio. Dormem com a televisão ligada para não escutar som algum. Não silenciamos nossa mente quando ficamos vidrados em redes sociais, nos comunicando de forma desregrada com receio de ser deixado para trás. Logo, isso ativa a ansiedade, causa distúrbios que nos torna surdos para o essencial.

Com essa necessidade de sermos úteis, importantes e insubstituíveis, abarrotamos nossos dias de tarefas, não nos permitindo o ócio – que também vem a ser produtivo – e vamos repassando isso as futuras gerações, que preenchem todo o tempo para absolutamente tudo, menos para o silêncio.

A sociedade criou uma imagem distorcida de que o silêncio é improdutivo, enquanto é completamente o contrário. Precisamos nos silenciar antes de ingressarmos em uma tarefa complexa, antes de responder um e-mail que requer discernimento, antes de sentarmos para conversar sobre um determinado assunto. A quietude organiza o cérebro, equilibra para que possamos agir de uma forma mais abrangente. O ruído interno que vem boicotando nosso progresso e nossa qualidade de vida.

O silêncio é uma abertura para escutarmos a si mesmo. Por mais que tenhamos medo de escutar o que temos a nos dizer, é preciso fazer isso. Devemos parar de usar o barulho para abafar coisas que nem sempre queremos escutar. Nossa mente tagarela mais que nossa boca, precisamos aprender a controlá-la, para que ela não nos controle.

E em respeito à nós, eu me silencio. Para que seu interior possa lhe falar – ou não. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário