Enquanto escrevo este texto
sobre silêncio, ouço cachorros latindo em algum lugar, carros sendo ligados –
ou em movimento, o barulho da TV ligada na sala, pratos sendo lavados, meus
dedos digitando. Não há silêncio absoluto, mesmo no topo da montanha mais alta
escutaremos algo – o vento. O silêncio está em extinção.
Se você parar no trânsito
escutará buzinas, freios, xingamentos, vozes, sirenes, não escutará o som do
vento, um pássaro cantando, a água escorrendo. O silêncio se faz necessário, e
o silêncio que eu digo, não é a ausência absoluta de sons, e sim ativar a
percepção do equilíbrio.
Acampei nesses dias, em uma
ilha. O camping ficava apenas à 500 metros da praia. A noite quando ia dormir,
eu conseguia escutar as ondas quebrando, o vento balançando as folhas das
árvores e aquilo, era um presente do silêncio pra mim. Mas eu só pude escutar
tudo isso, porque eu permiti que o silêncio se alojasse em minha mente.
Parece que as pessoas tem
medo do silêncio e cada dia que passa se enchem de itens barulhentos. Trocam
vassouras por aspiradores de pó, a toalha pelo secador de cabelo. Pessoas que
tagarelam o tempo inteiro, tornando-se inconvenientes mostram que tem medo do
silêncio. Dormem com a televisão ligada para não escutar som algum. Não silenciamos
nossa mente quando ficamos vidrados em redes sociais, nos comunicando de forma
desregrada com receio de ser deixado para trás. Logo, isso ativa a ansiedade,
causa distúrbios que nos torna surdos para o essencial.
Com essa necessidade de
sermos úteis, importantes e insubstituíveis, abarrotamos nossos dias de
tarefas, não nos permitindo o ócio – que também vem a ser produtivo – e vamos
repassando isso as futuras gerações, que preenchem todo o tempo para
absolutamente tudo, menos para o silêncio.
A sociedade criou uma imagem
distorcida de que o silêncio é improdutivo, enquanto é completamente o
contrário. Precisamos nos silenciar antes de ingressarmos em uma tarefa
complexa, antes de responder um e-mail que requer discernimento, antes de
sentarmos para conversar sobre um determinado assunto. A quietude organiza o
cérebro, equilibra para que possamos agir de uma forma mais abrangente. O ruído
interno que vem boicotando nosso progresso e nossa qualidade de vida.
O silêncio é uma abertura
para escutarmos a si mesmo. Por mais que tenhamos medo de escutar o que temos a
nos dizer, é preciso fazer isso. Devemos parar de usar o barulho para abafar
coisas que nem sempre queremos escutar. Nossa mente tagarela mais que nossa
boca, precisamos aprender a controlá-la, para que ela não nos controle.
E em respeito à nós,
eu me silencio. Para que seu interior possa lhe falar – ou não.
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