domingo, 30 de agosto de 2015

Acidentes de percurso


Eu queria, porque queria ser jornalista. Fui reprovada em todos os vestibulares que prestarei para este curso. Os que prestei para Direito, passei em ótimas colocações. Um acidente de percurso? O destino impondo sua vontade? Sei lá. No inicio até me animei em me tornar uma advogada bem sucedida ou uma promotora temida. Uma juíza justa? Seria ótimo no currículo. Uma delegada linha dura é bem mais atrativo. Mas a bela verdade é que no terceiro ano da graduação eu já via que estava no lugar errado, mas jogar tudo pro alto estava fora de cogitação. Talvez um concurso público viesse à calhar ou a diplomacia me entusiasmasse de uma forma incomum. Até hoje não consigo descrever o sentimento de satisfação que me acometeu no ultimo dia de aula. Eu estava livre! Mas eu persistir em me enganar e ir rumo a temível prova da OAB. Eu, nunca quis advogar, nem na prática, muito menos na teoria, e porque eu estava gastando meu tempo e meu dinheiro insistindo nisso? Porque eu escutava diariamente pessoas dizendo que eu deveria fazer, que isso seria promissor pra minha carreira. Essas mesmas pessoas sequer tinham feito algo maior por suas vidas e estavam lá, dando pitaco do rumo que a minha deveria tomar.

Até que, me descobri realizada na área financeira. Administração que nunca tinha sido nem a minha ultima opção de curso superior, entrou no meu cotidiano como quem não quer nada. E eu gostei daqueles números que pareciam palavras cantadas e descobri um universo não paralelo fazendo sentido na minha vida. Um acidente de percurso? O destino impondo sua vontade? Sei lá. Só sei que as coisas começaram a ter mais significado depois de eu ter encontrado algo que eu não estava procurando e esse algo ter preenchido algumas lacunas profissionais na minha vida.

Se eu vou prestar a prova da OAB? Não sei. Hoje, não faz sentido pra mim insistir nisso. Sei que muita gente acha que isso é a coisa mais absurda do mundo. Mas o mais absurdo é não respeitar as escolhas alheias. Sei que, caso eu venha a ser aprovada nessa bendita prova, não será por merecimento cósmico. Terei que sentar minha bunda numa cadeira e estudar até não aguentar mais, e quando eu não aguentar mais, terei que levantar minha bunda da cadeira, tomar um café com leite e voltar lá para estudar um pouco mais. Nem boa e, nem más oportunidades caem do céu. Somos nós quem as criamos, e de alguma forma eu criei uma oportunidade paralela que tem me realizado substancialmente.

Eu simplesmente admiro que se formou em engenharia e morreu atuando na engenharia. Ou até mesmo, quem investiu na medicina e passou o resto dos seus dias administrando uma pousada em Ilha de Boipeba na Bahia. É maravilhosa essa coisa de poder mudar, se reinventar e ser tudo o que gostaria de ser. A vida é altamente surpreendente quando você aceita que ela não, necessariamente, seguirá um roteiro previamente estabelecido.

Tudo que dá errado, pode dar muito certo. As vezes só precisamos mudar nossas apostas. Depois que eu migrei para a área financeira, conheci pessoas altamente excepcionais e inteligentes, que a cada dia me mostra que a leveza da vida reflete nos números, nas ações e que reflete diretamente em nossos objetivos. E fazer os números multiplicarem é a mesma coisa que multiplicar as possibilidades de sermos felizes. Basta mudar o ângulo de visão. 

Se eu fosse jornalista, talvez não tivesse a cabeça que tenho hoje, não teria conhecido as pessoas que conheço e nem teria vivido as experiencias que vivi. Dai concluo como os acidentes de percurso são fundamentais na vida. Sem eles, eu não teria nem um terço da felicidade que tenho hoje.

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