quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Conversas escutadas


Na sexta, eu fui pra São Paulo de ônibus. E a vantagem de ir para qualquer lugar de ônibus é que, mesmo involuntariamente, você tem acesso à conversa alheia. E escutar a conversa alheia, por mais que seja algo meio "indecente" é bom pra podermos avaliar o quão nossa vida é boa ou ruim. Na minha frente estavam sentadas duas senhoras e a conversa que se seguiu entre elas foi mais ou menos essa:



- Você nem sabe, a minha sobrinha de apenas 20 anos está grávida, e sequer sabe quem é o pai?  Uma desajuizada essa menina! Não pensa em estudar, só quer ficar indo nesses bailes, agindo como uma sem vergonha que não teve educação...

- Ah, mas isso já era esperado, os pais sempre deixaram ela fazer o que bem entendia, desde pequena. Boa coisa não ia dar, mais cedo ou mais tarde ia pegar barriga.

- Isso é verdade. Mas ainda bem que ela é sobrinha da parte do meu marido, pois Deus me livre se fosse da minha parte da família. Graças à Deus na minha família todo mundo é centrado.


Bom, essa tia, certamente é daquelas falsas, onde bajula na frente e detona por trás, maledicente é a palavra correta. Falar mal da sobrinha, que engravidou aos 20 anos e ainda por cima dizer que a família do marido é meio desvirtuada. Mas eu fiquei com uma pulga atrás da orelha no termo "pegar" barriga. Até ou eu sei, todos nós nascemos com barriga (ou eu estou enganada?!). A prosa das duas senhoras continuou a viagem inteira, cada hora falando mal de algum membro da família. E como ficou desinteressante, comecei a prestar atenção na conversa do casal que estava atrás de mim. 

- Olha, sua avó é a pessoa mais muquirana que eu já conheci em toda minha vida. Tenho dó de vocês na infância, com certeza ela morria de dó de servir um copo de água, aposto.

- Amor, as coisas não são bem assim. Vovó passou dificuldades quando era jovem, então hoje ela é bem contida em tudo.

- Contida? Sua avó só pensa em como tirar dinheiro dos filhos e se fazer de pobre coitada. Ela não entendeu bem o aprendizado das dificuldades da juventude. Uma coisa é valorizar, outra coisa é ser uma mão de vaca irremediável. 

Juro, eu quase cai na gargalhada com essa história. O namorado/marido estava indignado com as atitudes da avó da moça, que ao relato dele, deve ser a mulher que mais carrega escorpiões no bolso. Muquirana e mercenária.

Analisando de fora essas conversas, mais parecem implicâncias baratas, de uma tia maledicente com a sobrinha desajuizada; de um "neto" com uma avó mercenária. Mas cada um sabe o peso que carrega dentro de um ambiente familiar. 

Conviver em família é uma das coisas mais difíceis de lidar. Há aqueles que sempre querem ser melhores, há aqueles outros que adoram dar opinião sobre tudo, há também, aqueles que, querem te converter custe o que custar e tem horas que conviver com tios, primos, avós, etc, fica um saco, graças à falta de respeito que a famosa "cota sanguínea" se permite em ter. 

Eu relatei acima, casos cotidianos, que com certeza tem em toda família. Na minha família, por exemplo, não há só uma tia maledicente e sim várias. Gente desajuizada, um outro tanto. Mercenários? Ultrapassa o elenco do Filme que carrega esse título. Adianta falar alguma coisa? Não, não adianta. Pra conviver bem com a família o segredo é simples: Morar longe e se ver esporadicamente, assim, quando ocorrerem encontros, não haverá tempo para falar mal da vida alheia ou se irritar com opiniões descartáveis. 

Independente da sua tia ser  uma maledicente; seu tio, um corrupto; sua prima, uma desajuizada; sua avó, uma mercenária, e os outros tantos, cheios de defeitos também, lembre-se: você é QUEM escolhe com QUEM quer conviver. Cota sanguínea, não diz absolutamente nada, nos dias atuais. SINTONIA é tudo que uma FAMÍLIA de verdade tem que ter. 

O resto? É só para fazer volume na sua árvore genealógica. 


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