sábado, 9 de agosto de 2014

Sobre a tal justiça


Lembro até hoje quando fiquei sabendo que tinha passado no vestibular pra Direito. Você deve estar pensando: "E daí? Grande coisa!". Mas era uma grande coisa mesmo. Ali eu tinha tantas esperanças de que eu seria o diferencial no mundo, que mergulhei de cabeça. Nos cinco anos de labuta, quis ser advogada, promotora, juíza, delegada, investigadora, até que eu caí na real e escolhi ser eu mesma. Pois é, não sou nada do que eu desejei em todos aqueles anos que sofri por notas boa e por compreender o que era processo penal na minha vida. Me tornei algo que eu não esperava, mas que eu gostei bastante.

Mas quando eu ingressei no curso, o senso de justiça predominava. Só que com as experiências que vamos tendo em nossas vidas, percebemos que a palavra justiça é um pouco vaga, e que ser justo nem sempre é fazer as coisas de acordo com o que a lei estabelece. Explico.

Uma das coisas que eu mais adoro é escutar relatos de pessoas que estavam literalmente na merda e encontraram uma forma de dar a volta por cima de forma justa e honesta. Pessoas que tem a habilidade de transformar um acontecimento ruim em uma experiência boa. Considero isso uma bela injeção de animo, quando acho que nada tem solução, que tudo conspira contra, que tudo é isso e que tudo é aquilo. 

Você provavelmente já deve ter convivido com alguém que tenha passado pro uma doença grave e superou toda essa situação ruim com otimismo e se tornou uma pessoa bem melhor. Eu conheço. Eu admiro. Eu invejo, admito. Gosto de gente que consegue manter o pensamento positivo e o ânimo firme, apesar de todos os pesares. Sei que isso é fé em si mesmo, e o quanto é difícil manter toda positividade quando tudo ao redor parece desmoronar, mas se há algo que eu aprendi de verdade nessa vida é que devemos acreditar que somos capazes de superar qualquer obstáculo.

Eu sei que tenho pouca idade, e que meu senso de justiça é bem diferente de alguém que tenha 30 anos à mais do que eu. São as experiências que nos moldam, mas é o caráter que nos leva ao que fazemos. Um recente aprendizado, fora da sala de aula sobre justiça, é que para ser justo de verdade, precisamos tirar todos os sentimentos de ação, analisar todos os prós e contras e não apontar dedos. Eu vivia falando que quem pouPa os maus, ofende os bons. Mas o que nós sabemos sobre poupar os maus? E se na verdade, os bons estão sendo poupados? A justiça, na realidade, começa a ser aplicada quando deitamos a cabeça no travesseiro e analisamos o que fizemos no dia e conseguimos adormecer em paz. Nós somos os maiores acusadores que podemos ter. O que nós achamos de nós mesmos conta mais do que uma multidão acha. E colocar defeito nos outros, não camuflará os nossos próprios defeitos.

É muito fácil vivermos em um mundo, com rotulações do que é certo e do que é errado, e assim, classificar pessoas entre boas e ruins. Mas a verdade é que, dependendo da educação que você tenha tido, os valores serão diferentes. 

Quando buscamos justiça, podemos estar sendo injustos. E com essa luz no fim do túnel, eu resolvi ser indiferente do que ter razão. Até porque, para ser justo, devemos deixar o orgulho e o ego de lado. 

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